terça-feira, outubro 18, 2011

Dom Quixote


Muito prazer, meu nome é otário
Vindo de outros tempos mas sempre no horário
Peixe fora d'água, borboletas no aquário
Muito prazer, meu nome é otário
Na ponta dos cascos e fora do páreo
Puro sangue, puxando carroça

Um prazer cada vez mais raro
Aerodinâmica num tanque de guerra,
Vaidades que a terra um dia há de comer.
"Ás" de Espadas fora do baralho
Grandes negócios, pequeno empresário.

Muito prazer me chamam de otário
Por amor às causas perdidas.

Tudo bem, até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Tudo bem, seja o que for
Seja por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas

Tudo bem... Até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Muito prazer... Ao seu dispor
Se for por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas

(Engenheiros do Hawaii)


Muito prazer!


segunda-feira, outubro 03, 2011

Alma prolixa





Tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras;
sou irritável e piro facilmente; 
também sou muito calma e perdôo logo; 
não esqueço nunca; 
mas há poucas coisas de que eu me lembre; 
sou paciente, mas profundamente colérica, 
como a maioria dos pacientes; 
as pessoas nunca me irritam mesmo, 
certamente porque eu as perdôo de antemão; 
gosto muito das pessoas por egoísmo: 
é que elas se parecem no fundo comigo; 
nunca esqueço uma ofensa, 
o que é uma verdade, 
mas como pode ser verdade, 
se as ofensas saem de minha cabeça como se nunca nela tivessem entrado? 
Tenho uma paz profunda, 
somente porque ela é profunda e não pode ser sequer atingida por mim mesmo; 
se fosse alcançável por mim, eu não teria um minuto de paz; 
quanto a minha paz superficial, 
ela é uma alusão à verdadeira paz; 
outra coisa que esqueci é que há outra alusão em mim - a do mundo grande e aberto; 
apesar do meu ar duro, 
sou cheia de muito amor e é isso o que certamente me dá uma grandeza...”
(Clarice Lispector)


É... cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é... FATO!


Beijossss